segunda-feira, 10 de maio de 2010

AINDA SOBRE CARAMURU

DE VILA PEREIRA À VILA CATHARINO

Um pouco mais sobre Caramuru ou, rigorosamente, outras versões que não aquela, longérrima, do frei Santa Rita Durão.

Entre 1509 a 1511 uma expedição destinava-se as Índias. De passagem pela Bahia, essa nau, possivelmente francesa, naufraga na altura do Rio Vermelho, precisamente no lugar hoje conhecido como Praia da Mariquita que em tupi-guarani significa justamente “naufrágio dos franceses
Mariquita - Século XX
O homem!

O fato de ter surgido do mar por entre as pedras fez com que os Tupinambás o chamassem de Caray-muru, que na língua do gentio quer dizer um peixe de corpo alongado como a moréia que vivia entre as pedras. Alguns autores preferem que o nome tenha vindo de, “o homem branco molhado, ou afogado”. Outros ainda, que ele teria dado um tiro com um arcabuz que recolhera de bordo abatendo uma ave, deixando os índios perplexos a ponto de o chamarem de “filho do fogo” ou “filho do trovão”.
Outros ainda afirmam que ele sendo muito magro e alto, teria sido “rejeitado”, gastrônicamente falando. O fato é que toda a tripulação foi devorada pelos índios Tupinambás, grandes antropófogos, menos ele, Diogo Alves Correia, que sobreviveu à sanha faminta dos indígenas.
Essas são, naturalmente, algumas das hipóteses para explicar a sua sobrevivência. O certo, porém, e que não deixa dúvida, é que Diogo deveria ter outros atrativos de simpatia que lhe preservaram a vida e chegaram até a filha do cacique Taparica, a Paraguassu, com quem viria a se casar na França e receber o nome de Catharina em homenagem à Catharina de Médicis. Isso deve ter acontecido em 1525, aproximadamente.

O simples fato de Diogo Álvares Correia ter levado à Europa aquela índia, enfrentado certamente as maledicências de toda a órdem de uma côrte, bem demonstra o singularismo de sua personalidade. Não devia ser um homem comun! Alguma coisa, nesse aspécto, preservou sua vida! Ficou para a história.

Caramuru viveu 47 anos entre os Tupinambás. Conta-se ainda que na sua partida para seu casamento, outra mulher indígena jogou-se ao mar atrás da nau francesa que conduzia o seu ingrato amado (amante) e nadou até encontrar a morte. Seu nome era Moema, (mbo-em) a desfalecida ou exausta, em tupi guarani.
Em sua homenagem os franceses quando vinham a Bahia, chamavam o atual Morro do Farol da Barra de Pointe du Caramourou. Os portugueses denominavam-no de Ponta do Padrão.

Ai, em verdade, já reinava entre franceses e portugueses uma séria rivalidade e sem dúvida, Caramuru, apesar de português de nascença, estava do lado dos franceses, haja vista, que aqui naufragou numa nau francesa e quando foi se casar o fez na França e à sua esposa deu nome de uma rainha de França.

Com sua inteligência e apoio do sogro-cacique, Caramuru foi formando o primeiro núcleo de povoamento de Salvador com caracterísrticas próprias, não indígenas, localizado justamente entre a Graça mais no centro e a Vitória, nas proximidades do mar. O nome Salvador, segundo alguns historiadores se deve em alusão ao naufrágio “salvador” de sua vida!

Não acreditamos nessa versão. Esse naufrágio foi um desastre para dezenas de seus companheiros de viagem que ele não podia esquecer, barbaramente assasinados. Apenas o instinto de conservação da vida o fez seguir em frente. E nos braços de sua índiasinha, prosseguiu sua vida. Devia ser bonita e agradável! Constituiu uma grande prole. Gregório de Matos o chamou de “Adão de Massapê” (massapê: terra argilosa ideal para a cultura da cana de açucar). Diogo era ideal para fazer filhos e um grande diplomata. Amançou os índios e quando novas naus foram aportando por aqui, ele foi juntando os casais numa miscigenação maravilhosa que é hoje o traço marcante da nossa cidade e aí se tem de colocar o escravo e a escrava pretos, vindos à seguir, para a coisa morenar de vez.

O local onde Caramuru se estabeleceu era conhecido como “Vila Velha”, desde que ficou em segundo plano quando Thomé de Souza efetivamente estabeleceu a cidade onde é hoje a Praça Municipal e limitou-a: “ao sul, a porta de Santa Luzia onde a Praça Castro Alves encontra-se com a Rua Chile; ao norte, a porta de Santa Catarina, entre a Praça Municipal e Rua da Misericórdia, junto à esquina com a Ladeira da Praça; pela face leste o limite era uma barroca – chamada Barroquinha; a oeste o mar onde o sol se punha.

Estavam seguros da vida: aqui será Salvador, capital do Atlântico Sul”. Uma maravilha!


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